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A relação da Pandemia de COVID-19 e a exacerbação da ansiedade mundial

Vamos refletir acerca do que estamos vivendo com a pandemia de COVID-19 e a sua relação com a ansiedade (que eu diria) mundial.

Bem, aqui no Brasil, em 2019, costumava-se compartilhar memes desejando o fim daquele ano e a chegada no novo ano de 2020. Isso porque 2019 foi marcado por algumas tragédias, violências, perdas de pessoas públicas importantes, crise financeira etc.

Então, 2020 chega com a expectativa de um novo ano, porém, já escutávamos falar que “lá na China” uma doença desconhecida se alastrava.... Os mais céticos ignoraram, os mais ansiosos já “levantaram as antenas”.

Até que em 20 de março de 2020, foi decretada mundialmente a pandemia de COVID-19. Passamos então a viver de uma forma jamais imaginada. Escolas fechadas, ruas vazias, espaço de lazer e convivência totalmente ermos. As pessoas passaram a viver confinadas, afastadas do convívio social, das trocas, dos trabalhos, das rodas de amigos... Pela TV, as cenas eram desoladoras. Pessoas de todas as idades, classes e etnias morrendo em pouco tempo; hospitais lotados.

Em pouco tempo, uma onda de medo e ansiedade se alastrou pela humanidade.

A ansiedade diz respeito a uma forma de angústia proveniente da antecipação de fatos e situações. Quando excessiva, a ansiedade transforma-se numa doença/distúrbio denominada de transtorno de ansiedade, na qual as pessoas sofrem e se preocupam com o que pode vir a acontecer.

Enquanto na ansiedade, tem-se essa expectativa por uma ameaça que pode vir a acontecer, no medo essa ameaça é real ou percebida.

Sendo assim, fica claro percebermos o misto de medo e ansiedade que tomou conta da humanidade com a drástica chegada do SARS-Cov 19.

E agora, reflito que a linha se tornou bastante tênue entre os quadros de ansiedade e os quadros de transtorno de ansiedade. Afinal, diante de uma situação nova e tão extrema, muitas pessoas adoeceram também mentalmente.

Pensando nos três tipos de transtorno de ansiedade: a realista, a neurótica e a moralística, diria que a mais frequente tem sido o transtorno de ansiedade realista. Já que essa se caracteriza pelo medo de perigos reais do mundo exterior.

As pessoas passaram a conviver com o medo da própria morte e da morte de pessoas queridas. Mas, para além disso, outras ansiedades se manifestaram como, por exemplo, o medo de perder o trabalho, de não ter renda, não ter alimentação. Algumas pessoas, mais socialmente ativas, travaram um duelo interno com o desejo de estar em festas e confraternizações. E, também isso, trouxe sofrimento e angústia.

Como sabemos, um transtorno de ansiedade pode causar um quadro de depressão e vice-versa. E, certamente, nesse cenário, aumentou bastante o número de pessoas com quadro depressivo.

Pensando em alguns distúrbios e transtornos aos quais a ansiedade está relacionada, direta ou indiretamente, vamos tecer aqui alguns comentários:

No transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o indivíduo tem a sensação de que, a qualquer momento, tudo vai dar errado e a vida vai tomar um rumo drástico. Ele pode cursar com sintomas como: preocupação e medo excessivo, irritabilidade, dificuldade de concentração, dificuldade para dormir, tensão, dor de cabeça, sudorese, náusea etc.

Na síndrome do pânico, sem nenhum motivo aparente, a pessoa acha que vai morrer.

No transtorno obsessivo-compulsivo, a ansiedade é causada por pensamentos obsessivos, imagens angustiantes e só é aliviada mediante comportamentos compulsivos, como rituais específicos.

No transtorno de estresse pós-traumático, o indivíduo sofre com a repetição das lembranças de um evento traumático, que não lhe saem da cabeça.

Na fobia social, há o medo exagerado de participar de reuniões, eventos com pessoas desconhecidas, falar em público.

E na ansiedade noturna, ao invés de deitar-se e relaxar, o indivíduo não consegue dormir. Fica repassando as cenas do dia e antecipando as situações do dia seguinte, sofrendo com algumas lembranças e cobranças.

Bem, eu fiz esse apanhado para que possamos correlacionar com o acontecido durante a Pandemia.

É claro que a Pandemia, por si só, é um acontecimento grave, real, que causa medo e insegurança nas pessoas. Não se trata de um fato imaginário. Mesmo assim, ela potencializou e materializou os sintomas de muitos dos transtornos relacionados acima.

Quantas pessoas passaram a relatar esse medo iminente de tudo dar errado? Quantas pessoas se tornaram compulsivas no ato de lavar e limpar as mãos e utensílios a todo momento, para evitar a contaminação? Quantas pessoas passaram a ficar atormentadas com as imagens vistas pela TV de pessoas morrendo asfixiadas, de corpos e mais corpos sem espaço para serem devidamente sepultados? Quantas pessoas passaram a se queixar de insônia e sono perturbador? E, mesmo com a tão esperada chegada da vacina e melhora do cenário mundial, quantas pessoas desenvolveram fobia social?

Enfim, trago aqui a reflexão porque acredito que além da Pandemia de COVID-19, ainda cursaremos com uma “pandemia” de transtornos de ansiedade e depressão. Como profissionais, precisaremos estudar e nos aprofundar para cuidarmos de nós mesmos e de toda uma humanidade que sofre com as sequelas do que foi e ainda está sendo vivido.

Cristiane Marques - psicanalista clínica


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