A importância dos sonhos para a Psicanálise

Uma das características mais fascinantes na Psicanálise é a importância atribuída à interpretação dos sonhos.

O sonho sempre foi algo estudado e abordado pela ciência, pelas religiões, pela psicologia etc. Sabe-se ser o sonho um fenômeno neurofisiológico, mas o que é sonhado passa a ser um fenômeno psicológico.

Há décadas, a ciência entendia o sonho apenas como uma atividade cerebral, composta de ideias desconexas, “apenas um tráfego de informações sem sentido”. As religiões, por sua vez, costumavam abordar o caráter premonitório dos sonhos, inclusive com exemplos em passagens bíblicas marcantes para a humanidade. Mas aí, vem Sigmund Freud na sua obra intitulada “A interpretação dos Sonhos”, de 1900, e nos introduz uma concepção completamente revolucionária e fascinante em relação ao fenômeno do sonho.

Para Sigmund Freud, os sonhos estavam longe de serem ideias desconexas e sem sentido. Inclusive, os sonhos, muitas vezes, traziam grandes insights a quem sonhava. Freud defendia com veemência que os sonhos representavam a manifestação de desejos!

Como assim? Alguns vezes, temos sonhos terríveis, pesadelos dos quais queremos logo acordar e nos livrar. Como poderia ser o sonho a representação de um desejo?

Bem, Freud vai além ao explicar que o fenômeno dos sonhos se divide no que chamamos de sonho manifesto e sonho latente. O primeiro é o conteúdo que lembramos e contamos logo ao acordar ou dias depois. Porém, o sonho manifesto, embora repleto de simbologia e elementos, não representa o desejo real. Isso se dá, porque os sonhos, assim como os sintomas, apresentam censura e mecanismos de defesa. É como se eles passassem por um filtro de censura a fim de conseguirem alcançar a consciência. Logo, podemos concluir que o sonho manifesto é o sonho latente carregado desses mecanismos de defesa e elaboração, que podem ser: a dramatização ou concretização, a condensação, o desdobramento, o deslocamento, a representação pelo oposto, a representação simbólica e a representação pelo nímio.

Todos esses mecanismos são importantes na elaboração dos sonhos e na forma como eles se apresentam como o sonho manifesto.

Aprendemos, então, com o pai da Psicanálise, que a interpretação dos sonhos é o principal caminho de acesso ao inconsciente e, por isso, essa interpretação e análise é ferramenta primordial de atuação do psicanalista junto ao analisando.

Essa análise depende da história de vida do indivíduo, da forma como ele vê e se relaciona com o mundo exterior e interior, da forma como ele entende e interpreta os elementos e os símbolos do seu próprio sonho.

Cristiane Marques - psicanalista clínica