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Um mergulho no filme "Felicidade por um fio"!

Atualizado: 3 de jan. de 2023


Lançado em 21 de setembro de 2018, pela Netflix, o filme traz a história de vida de Violet Jones, a personagem vivida por Sanaa Lathan.

O filme começa mostrando a aparente vida perfeita de Violet. Uma publicitária vaidosa e bem-sucedida, que namora há dois anos com o médico Clint, o ator Ricky Whittle. Já no início do enredo, começamos a perceber a relação conflituosa e sofrida que Violet tem com a sua aparência, mais precisamente com os seus cabelos.

Violet Jones é uma mulher negra, que desde a infância, foi estimulada e condicionada pela mãe a estar sempre com os cabelos alisados. Fica claro que a mãe de Violet entendia que o alisamento dos cabelos e a necessidade de estar sempre bem-vestida e impecável eram atributos necessários para serem aceitas na sociedade.

Em uma das cenas, Violet, ainda criança, aparece em um clube, à beira da piscina, com os cabelos alisados. Ela olha em torno e se ressente por não poder ser livre como as demais crianças que corriam despenteadas, com a boca suja de sorvete e descalças. Nessa mesma cena, ela se joga na piscina para brincar e, ao levantar-se do mergulho, uma criança critica o seu cabelo, dizendo ser parecido com um arbusto. A mãe, imediatamente, vai embora do clube com Violet.

As cenas seguintes já evidenciam como essa situação, de não aceitação das suas características físicas, atreladas ao preconceito da sociedade, prejudicou o desenvolvimento emocional da personagem principal.

No filme, Violet tem verdadeira obsessão e compulsão pela necessidade de alisar os cabelos. Em dois anos namorando com Clint, ela nunca permitiu que ele a visse sem estar com os cabelos alisados. Isso se refletia, até, na intimidade do casal, já que durante o sexo, ela se esquivava a todo momento de ser tocada nos cabelos, com receio de estragá-los ou sujá-los.

Numa discussão, Clint diz que não pretende pedi-la em casamento, por sentir que não a conhece verdadeiramente. Segundo ele, ela é sempre muito perfeita e tem a sensação de que continuam no primeiro encontro.

Essa discussão culmina com o término da relação e faz com que Violet Jones comece a revisitar e refletir muitos pontos da sua vida. Ela vai se dando conta de como se tornou refém da necessidade de parecer sempre perfeita e do quanto isso adoeceu o seu ego. A relação com mãe, ao mesmo tempo que mostra um elo e uma intimidade, mostra também uma relação de assédio e opressão, a qual Violet é submetida desde a infância. Ela acabou desenvolvendo um superego muito duro, muito áspero, que sempre a estava impondo a necessidade de ser perfeita.

O término do relacionamento com Clint, coincide com o momento em que a personagem principal conhece Will, um cabeleireiro negro, e a sua filha Zoe (uma criança de dez anos). Will defende o uso dos cabelos naturais por todas as mulheres e desenvolve, inclusive, uma linha de cosméticos naturais. Ele cria Zoe sozinho e luta para que a filha valorize a sua beleza natural, não se rendendo, nem se abatendo com os preconceitos da sociedade. Will se apaixona por Violet e reforça nela a sua beleza e encanto.

Nesse momento do enredo, Violet entra numa crise de identidade. As palavras do ex-namorado continuam reverberando no seu interior e ela dá início a um processo desafiador que culmina na elaboração e no autoconhecimento. Na tentativa de se encontrar, além de alisar os cabelos, pinta-os de louro e força atitudes mais ousadas, que não coincidem, verdadeiramente, com o seu modo de vida. Até que, numa madrugada, bêbada, Violet tem uma catarse e raspa todo o cabelo. A partir de então, ela inicia uma nova vida, que se mostra extremamente desafiadora e sofrida para ela.

Assumir os seus cabelos naturais faz com que ela enfrente uma série de preconceitos não vividos até então. Comentários desrespeitosos, perda de oportunidades no emprego, perda do assédio por parte de alguns homens, recriminação por parte da própria mãe. Violet teve ainda que lidar com os seus próprios preconceitos, quebrar tabus, se apropriar da sua verdadeira identidade. E isso não se deu de maneira fácil.

Ao reatar com o ex-namorado, Clint acaba demonstrando se envergonhar dos cabelos naturais de Violet e a pede para alisá-los. Essa foi a gota d’água para que ela entendesse, de uma vez por todas, que não tinha como continuar vivendo de maneira tão opressora. Ela, então, se joga na piscina, em pleno noivado, molhando e assumindo os seus cabelos e a sua nova vida, com todos os desafios trazidos por ela!

Uma fala de Violet, em especial, me chamou atenção: Segundo ela, a obsessão com os cabelos funcionava como um segundo emprego, do qual ela estava, agora, liberta!

O filme “Felicidade por um fio” aborda o sofrimento de muitas mulheres que, assim como Violet, se veem presas, desde crianças, a um conceito imposto pela sociedade, que dita as regras do que é ou não é adequado, retirando de muitas mulheres a espontaneidade e, mesmo, a identidade.

Que o filme sirva como alerta para todas as mulheres! Para que possamos assimilar que temos o direito e a liberdade de usar os cabelos da maneira como desejarmos: lisos, encaracolados, curtos, compridos ou raspados. Desde que estejamos felizes e satisfeitas e não engessadas em regras e estereótipos impostos. Esse processo faz parte do fortalecimento do ego, tão defendido por Sigmund Freud.

Cristiane Marques - Psicanalista Clínica



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