O aparelho psíquico segundo Freud e a interpretação dos sonhos
- Cristiane Marques

- 29 de dez. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de jan. de 2023
Interessante compreender o aparelho psíquico pela óptica de Sigmund Freud. Através da sua primeira tópica, um modelo estrutural, que divide o aparelho psíquico em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente; e através da sua segunda tópica, que veio complementar a anterior. A sua segunda tópica divide o aparelho psíquico em Id, ego e superego.
O Id, todo ele inconsciente, abriga os desejos, abriga as lembranças e símbolos da infância. Ele se ocupa da realização de tais desejos, sem se preocupar com filtros, limites, imposições e restrições.
O Superego, em sua maior parte consciente (mas também abriga um pouco do inconsciente), é caracterizado pelos limites morais e sociais. Muitos deles trazidos pela educação que tivemos e do que foi passado pelos pais ou cuidadores. A todo instante, ele busca frear os impulsos de realização dos desejos provenientes do Id.
O Ego, então, com sua função mediadora, se propõe a estabelecer a ponte necessária entre o Id e o Superego. Ele busca a integração e a “negociação” entre a realização do desejo e os limites morais ditados pelo Superego. Também ele, apesar de ser prioritariamente consciente, abriga uma parte de inconsciente. O Ego caracteriza a identidade do ser, mediante as suas vivências, experiências, sentimentos e pensamentos.
E os sonhos? Por que a interpretação dos sonhos costuma ser tão importante para a prática da Psicanálise?
Sigmund Freud entendia e defendia que o sonho funciona como um “sintoma” e ele abriga a realização dos desejos inconscientes. Para ele, em última análise, os sonhos sempre representam a realização de desejos. Quer eles apareçam como realização de desejos, verdadeiramente; quer eles apareçam disfarçados, mediante uma censura onírica.
Segundo Freud, “no inconsciente nada é encerrado, nada está esquecido”. Isso significa que, em qualquer momento da vida, uma lembrança antiga pode ser resgatada e catexizada com igual energia psíquica e excitação. Aqui entra prioritariamente a importância da Psicanálise, pois, através dela, é possível abordar e tratar esses processos inconscientes para que eles deixem de causar tantos danos.
Para Freud, três são as origens dos desejos: A primeira delas diz respeito ao desejo despertado ao longo do dia, mas que, não tendo se ocupado dele, acaba ficando no pré-consciente, como uma pendência para a noite. A segunda origem diz respeito ao desejo surgido durante o dia, porém, que passou por um processo de repressão e repúdio. Esse desejo é suprimido e acaba recuando da instância pré-consciente para a instância inconsciente. E, por fim, a terceira origem dos desejos não guarda relação com a vida diurna. Trata-se de um desejo que emerge da parte suprimida da psique.
Ao dormirmos, relaxamos as atividades de reflexão e de controle. A resistência perde parte do seu poder. A censura endopsíquica é reduzida e, assim, damos vazão às representações involuntárias.
Normalmente, é o desejo proveniente do inconsciente que produz o sonho. É como se esse desejo estivesse em estado de alerta, ávido por encontrar um meio de expressar-se. Para isso, ele acaba ligando-se a uma moção do consciente, transferindo para esta grande intensidade. Porém, equivocadamente, tem-se a impressão de que apenas o desejo consciente aparece no sonho.
Daí, a importância da Psicanálise na interpretação desses sonhos!
O procedimento do analista consiste em analisar o sonho em partes, focando a atenção em um elemento por vez e tomar nota de todos os pensamentos involuntários que ocorram ao indivíduo em relação a este. Depois, deve-se seguir para o próximo elemento do sonho e repetir o processo. Ao final, provavelmente, chegar-se-á aos pensamentos oníricos dos quais o sonho foi originado.
Para isso, o analista deve orientar o analisando a abandonar todo tipo de reflexão e, simplesmente, expressar o que lhe vier à mente. Qualquer coisa. Ainda que o relato lhe pareça banal, insignificante, sem sentido, arbitrário e censurado.
Quando ocorrer o esquecimento dos sonhos (o que é uma tendência, já que serve ao propósito da resistência), o terapeuta deve solicitar ao analisando que ele repita o relato. Então, as partes do sonho não repetidas pelo indivíduo ou relatadas de maneira diferente, devem servir para o psicanalista como guia para a interpretação dos sonhos. Isso porque, uma das regras da Psicanálise nos diz que tudo aquilo que causa uma interrupção no processo do trabalho analítico representa uma resistência do aparelho psíquico.
Em geral, quando se consegue resgatar uma parte esquecida do sonho, ela costuma ser de extrema importância para o processo analítico. Mas, é importante ressaltar que, nem sempre é possível concluir a interpretação de um sonho de uma única vez. Pode ser necessária e interessante realizar a interpretação dos sonhos de maneira fracionada. E, ainda, é importante que o analista tenha consciência que nem todos os sonhos são passíveis de interpretação.
Por fim, nesse maravilhoso processo de análise e interpretação dos sonhos, proposta por Sigmund Freud, é importante lembrarmos que o desejo é a força psíquica impulsora para a formação dos sonhos. Estes são, então, a realização de desejos, porque são produtos do inconsciente. E a atividade do sistema inconsciente possui um único objetivo: REALIZAR DESEJOS!
Cristiane Marques - Psicanalista Clínica






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